Espaços híbridos na cidade, participação cidadã e novas tecnologias de produção, distribuição e monetização audiovisual: jovens de bairros populares da periferia de Paris e São Paulo
Objetivo
Esta cátedra franco-brasileira entre o Labex ICCA, França e ECA-USP, Brasil tem como objetivo compreender conexões empíricas que jovens de bairros populares nas periferias de São Paulo e Paris, com idades entre 15-30 anos, são motivados a empreender por meio de tecnologias de informação e comunicação audiovisual. Seja na construção social de concepções emergentes do espaço público, seja a renovação da narrativa da marginalidade urbana ou ainda na reinvenção de formas de participação do cidadão.
Palavras-chave: cidadania insurgente, comunidades virtuais, espaço público híbrido, produção audiovisual, jovens da periferia e bairros populares, percepções e imaginário urbanos, práticas digitais, vídeo on-line, cidades e territórios digitais, games, smart cities, moedas sociais
Resumo :
catedra_franco-brasilera_2016-2017Problematização
A ausência histórica do Estado nos bairros populares de São Paulo (Caldeira, 2000) e Paris (Halter, 2014), além do contexto urbano de desemprego, muitas vezes violento, levou os jovens desses territórios a criar “auto-soluções” (soluções autonomistas, autogestionárias e locais) para as suas necessidades. Estas práticas, tanto legais quanto ilegais, precisam de espaços para torná-los eficazes, uma espécie de arena que não é apenas física, mas sim um encontro de ideias com condições de acesso a meios em que um novo protagonismo seja possível. Com evidente predomínio das narrativas audiovisuais digitais, mas diretamente associadas ao universo das ruas da periferia, já é possível identificar esta arena como “espaço público híbrido” (De Souza e Silva, 2006; Duffey, 2014). O mundo físico e o mundo digital, incluindo o seu cruzamento, produziram este espaço híbrido onde a qualidade do acesso é constantemente revisitado, dando-lhe uma elevada plasticidade. Os jovens dos bairros populares das metrópoles da América Latina e Europa utilizam este espaço audiovisual híbrido (do muro grafitado ao rap postado) para reconfigurar suas percepções de exclusão e consolidar a sua identidade de grupo (Galland, 2007) frente à complexidade da cidade. No espaço virtual “não são controlados e afirmam ser parte da mudança” (Mansilla, 2015).
Em meio a este panorama histórico de violência e negligência sistemática dos governos, jovens de bairros periféricos e populares de São Paulo (Cabanes, 2009) e Paris (Garner, Harfi, et al, 2015) construíram um imaginário coletivo que lhes permitiu responder a essas condições sócio-territoriais conflituosas. Este imaginário coletivo foi construído sobre os princípios de urgência e auto-desenvolvimento. A internet oferece novas oportunidades para estas ações alternativas, por exemplo através de comunidades online, como YouTube e Facebook. A partir destas novas interações híbridas, os indivíduos criam novas significações no plano físico e reconfiguram as restrições e funcionalidades dos espaços públicos. Em outras palavras, uma rua ou monumento recebe novos significados de acordo com as atividades realizadas ali, mas também a funcionalidade que os jovens dão por meio de suas trocas antes e depois de interação física. Por exemplo, em Paris, os jovens fazem chamadas em suas comunidades virtuais a usar espaços públicos – um “parque que passa a servir como campo de batalha de dança de rua ou para organizar um torneio de futebol”, disse um jovem em Belleville, Paris (Mansilla, 2015).
Essas comunidades virtuais, através do desenvolvimento da transmissão sem-fio (wifi público) permite que os fluxos de dados integrem não apenas textos, mas cada vez maior proporção de imagens e vídeos. Suas percepções de espaço são fortemente influenciadas por tal informação audiovisual, fazendo com que surjam novas configurações no espaço híbrido. Hoje as pessoas não são apenas consumidores, numa posição de observação passiva, mas também os produtores, em uma posição de publicação, distribuição e monetização de seu próprio olhar (por exemplo como “prosumidores”). Portanto, a Internet oferece novas oportunidades para os jovens das áreas metropolitanas reconfigurarem os limites físicos e históricos de sua exclusão. A “cidadania insurgente”, proposta por Holston (1999), inscrita num contexto de espaços híbridos urbanos, permite integrar em um só movimento analítico as condições socioeconômicas de produção das expressões culturais audiovisuais dos jovens que habitam nas metrópoles os bairros populares da periferia.
Importância do problema
É oportuno pesquisar e propor formas de intervenção (políticas públicas, regulação de costumes, engajamento cívico) em que os jovens de bairros populares da França e do Brasil ocupam os mesmos espaços, construindo os mesmos tipos de lugares híbridos ou se eles desenvolvem as mesmas práticas, para afinal identificar o processo pelo qual se posicionam e desenham sua experiência urbana na era do audiovisual digital.
É também e acima de tudo uma questão ligada ao espaço dos jovens no espaço público. Onde eles podem se encontrar, reunir, recolher memórias, compartilhar a produção de registros audiovisuais, que espaços estão disponíveis para eles e em nome de quais valores e causas?
O que eles negociam entre si e com o mundo exterior aos seus bairros? Que tipo de espaço propicia essas trocas e qual o papel das ferramentas audiovisuais? Quais são os limites e possibilidades que os jovens percebem nesses espaços?
Como eles reagem a essas configurações espaciais híbridas? Como estão se apropriando das novas TICs para construir e definir os usos desses espaços urbanos? Como eles usam as imagens e as produções audiovisuais na construção e distribuição de seu discurso? Como as experiências de jovens da periferia configuram narrativas?
Atividades de ensino
1. Um seminário, dividido em dois módulos para estudantes de pós-graduação (mestrado e doutoramento) ECA-USP, com o título:
“Produção de imagens na sociedade da informação e o surgimento da iconomia.”
Ele será oferecido em dois módulos:
Parte 1: “bases epistemológicas, ferramentas de pesquisa, questões fundamentais”.
Parte 2: “O raciocínio a partir de estudos de caso: que as cidades de Paris e São Paulo estão aprendendo uns com os outros.”
2. Um workshop de uma semana (cinco dias) aberto a estudantes da USP e ao público em geral:
” Design, produção e existência/resistência: democratização audiovisual da Internet ”
Este workshop contará com a participação de (a confirmar):
i. Coletivo audiovisual de jovens paulistanos: Lento Periféricas, Filmagens Periféricas (Cidade Tiradentes, Zona Leste de São Paulo), Arroz, Feijão, Cinema e Vídeo (de Taipas, Zona Norte), o Arte na Periferia, o Núcleo de Comunicação Artística (NCA ) EO Cine Becos, da Zona Sul.)
iii. Pesquisadores especialistas (a confirmar) sobre o tema da criatividade em áreas marginais das cidades brasileiras (Livia De P.hD Tommasi), a questão da economia solidária em São Paulo (Marcia de Paula Leite, P.hD) e sobre a questão da produção cultural em áreas urbanas periféricas (Erica Peçanha do Nascimiento).
Atividades de pesquisa
Escrever um paper de pesquisa a partir do workshop. Edição em Português e Francês.
Atividades de Divulgação
Haverá três conferências para um público mais amplo.
1. Produção de imagens, transformação de espaços: vídeo, empoderamento, democracia.
2. Experiência urbana da juventude e cidadania digital: rupturas e fronteiras.
3. Panorama da pesquisa internaciona
Para una presentación de Human Mount :